Instalação do CLA em Alcântara afetou várias
comunidades (Foto: Douglas Junior/O Estado)
A relação conturbada entre quilombolas e militares responsáveis pelo Centro de Lançamentos de
Alcântara(CLA), instalação da Aeronáutica que cuida de projetos aeroespaciais do Brasil, será foco de debates realizados na 64ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC, que teve início no domingo (22).
Programada para esta segunda, às 10h30, a conferência "A base espacial e os quilombolas de Alcântara" vai reunir representantes quilombolas de Alcântara e cientistas para tratar temas como cultura, educação e direitos.
A tentativa de diálogo va contar com a presença de Danilo da Conceição Serejo Lopes, representante do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara (Mabe), e o mestre e doutor em Antropologia Social, Alfredo Wagner Berno de Almeida.
O objetivo é discutir as mudanças implementadas na vida das comunidades locais desde a década de 1980, quando se iniciou o processo de instalação da base. “Há um conflito fundiário desde a criação da base aérea, com a violação de vários direitos das comunidades”, disse o representante. Segundo ele, já houve por diversas vezes a cobrança pelas titulações do território, principalmente para os quilombolas. Foram criadas sete agrovilas, com moradores remanejados para a construção da base.
“O governo federal tem afirmado que não haverá remanejamento de comunidades, mas nesses anos, durante a implantação do projeto, houve descumprimento de acordos, o que nos deixa com sentimento de incerteza”, explicou Danilo, que também é acadêmico de Direito em Goiás.
Lançamento de foguete em Alcântara
(Foto: Centro de Lançamento de Alcântara)
Experiências em educação
Outro espaço de discussão na SBPC será o debate “O projeto alma e o diálogo entre os saberes tradicionais e a universidade”, programada para o último dia da conferência científica.
A mesa será composta por lideranças de quatro comunidades quilombolas da região, o diretor do CLA, coronel engenheiro Cesar Demétrio Santos, além do gerente socioambiental da empresa binacional brasileiro-ucraniana Alcantara Cyclone Space (ACS), Josildo Portela.
Coordenadora do debate, a professora da Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), Herli de Sousa Carvalho, lembra que apesar da existência de um confronto no início do projeto de Alcântara, atualmente a relação está melhor.
“Os representantes das comunidades afirmam que foi ruim terem sido remanejados para outras terras, mas hoje eles possuem acesso a serviços como água, energia e escola”, disse. “Nosso objetivo é ser essa ponte, para que o CLA possa participar mais nessas comunidades e vice-versa”, acrescentou.